A obra encerra a Trilogia Madame, iniciada em 2021
 
       
  
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O Brasil é um país que tem muito passado pela frente. É a partir desse enunciado que o Núcleo Alvenaria de Teatro estreia Humanamente Inviável, nova criação escrita e dirigida por Tati Bueno, em cartaz na sede da companhia, o Alvenaria Espaço Cultural.
A peça se passa em um bar à beira do fim do mundo, onde personagens se encontram entre uma saideira e outra para desabafar diante de um colapso que não é futuro, mas presente. O espetáculo mergulha em um universo em que o apocalipse não chegou com estrondo, mas com silêncio, cansaço e distração. Uma tragicomédia distópica sobre tentar — e tentar de novo — mesmo quando já não se acredita.
Entre a fossa brasileira e a avalanche digital
 
       
  
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Livremente inspirado em dois fatos reais — o episódio narrado por Rebecca Solnit no livro Os Homens Explicam Tudo Para Mim e a experiência de cursos obrigatórios para homens processados por violência doméstica —, Humanamente Inviável mistura humor ácido, crítica social e camadas de ficção distópica.
A narrativa se divide em dois planos: no “terreno”, acompanhamos Alicinha, criadora de uma clínica que promete reeducar homens, e seu marido Mário, um machista em eterna “desconstrução”. Com eles, Norma e Dominique se desdobram para provar que o método funciona e, assim, renovar o contrato com o governo. No “mítico”, três entidades — Madame, Vera e o Poetinha — ocupam o bar no fim do mundo, observando e comentando os destinos humanos, entre sambas de fossa e confissões íntimas.
“Esperávamos um fim do mundo que chegasse como um estrondo, mas, na verdade, ele está vindo a conta-gotas. E, enquanto esperamos, precisamos lidar com o vício em dopamina, o celular como extensão do corpo, a falência dos afetos e as velhas disputas de gênero”, afirma Tati Bueno.
A encenação
 
       
  
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O espaço cênico é concebido como um terreno instável, em mutação constante. O bar inicial se transforma em cabaré, sala de palestra, laboratório de reeducação compulsória, consultório afetivo e até campo de experimentos. A dramaturgia aposta em uma lógica de colagem e de simultaneidade, em que as ações se sobrepõem como fragmentos de um grande plano-sequência, borrando as fronteiras entre realismo, farsa e delírio.
A iluminação, criada por Samya Peruch e Tati Bueno, acompanha essas metamorfoses: da meia-luz intimista ao corte frio de um experimento científico, passando por flashes que remetem a auditórios ou festas decadentes. O figurino de Uga Agú parte de roupas únicas que se desdobram em diferentes personagens por meio de detalhes, reforçando a ideia de identidades fluidas e instáveis.
A música, composta e dirigida por Felipe Antunes, é quase uma personagem: atravessa a cena com referências ao movimento A Fossa — samba-canção de tons urbanos e melancólicos, herdeiro de Dolores Duran, Maysa e Nora Ney — e se mistura às vozes dos intérpretes, que cantam ao vivo, entre sambas, boleros e canções populares.
No palco, Bia Toledo, Alexandra DaMatta e Thiago Carreira transitam entre papéis múltiplos, alternando discursos políticos, momentos de intimidade, números musicais e lampejos de absurdo. Com humor, ironia e melancolia, a encenação explicita um presente saturado, onde se tenta resistir, mas também se falha — e nesse fracasso, talvez, resida a última chance de humanidade.
Trilogia Madame
A obra encerra a Trilogia Madame, iniciada em 2021 com Codinome Madame e Madame e a Faca Cega. Se nas peças anteriores a distopia era projetada para resistências futuras, agora o olhar está no presente colapsado, em que insistir e falhar pode ser o último gesto de humanidade.
Humanamente Inviável foi realizado com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Ficha Técnica:
Texto e direção: Tati Bueno
Elenco: Bia Toledo, Alexandra DaMatta, Thiago Carreira
Preparação de elenco: Inês Aranha
Direção Musical: Felipe Antunes
Figurino: Uga Agú
Cenário: Carol Bucek
Adereços: Ana Santos Nega
Iluminação: Samya Peruch e Tati Bueno
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques e Daniele Valério
Produção: Clube do Mecenas
Idealização: Núcleo Alvenaria de Teatro
HUMANAMENTE INVIÁVEL
 
       
  
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Temporada: De 24 de Outubero a 03 de Novembro
Horário: Segundas e sextas, às 20h30 | Sábados e Domingos, às 16h
Local: Rua Turiassu, 799 - Perdizes
Ingressos: Gratuitos | Distribuídos 01 hora antes das sessões
Duração: 75 minutos
Classificação: 14 anos
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