A montagem mistura folclore, crítica social e rock indígena em um ritual cênico sobre o Brasil colônia e o presente.
Foto: Felipe Gabriel
O Projeto Crioulos celebra quatro anos de trajetória com uma montagem que mistura folclore, crítica social e rock indígena, viabilizada por seu segundo Fomento ao Teatro. Último espetáculo da trilogia de mitos contemporâneos criada pelo grupo, “Mitologia Tropikal” fica em cartaz no Teatro Alfredo Mesquita.
Com dramaturgia e direção de Caio D'aguilar, a peça atualiza lendas brasileiras de origem afro-indígena e cristã, muitas delas criadas no Brasil Colônia como narrativas de controle e medo durante o período escravocrata. Em linguagem fragmentada e ritualística, Mitologia Tropikal transforma essas histórias — como as do Saci, Curupira, Negrinho do Pastoreio e Mula sem Cabeça — em sátiras de terror político, revelando como as estruturas coloniais ainda moldam o país.
Dividido em três atos — Filhos, Mães e Pais —, o espetáculo revisita personagens do imaginário popular que transitam entre o passado e o presente.
Foto: Felipe Gabriel
O Curupira aparece como motoboy, inspirado no ativista Galo de Luta; o Saci remete ao massacre de Paraisópolis; e a Mula sem Cabeça, liberta de sua condenação religiosa, simboliza uma força feminina insurgente. As ações se desenrolam em tempos sobrepostos — da senzala às periferias, das fazendas coloniais aos aplicativos de entrega —, expondo como os fantasmas da colônia continuam a assombrar a vida brasileira.
Com consultoria histórica de Joaci Pereira e provocações de Kenan Bernardes, a montagem costura camadas simbólicas entre poder, fé e resistência. Em um dos momentos mais marcantes, a dramaturgia cita pequenos trechos do testamento real de Xica da Silva mesclado ao discurso de posse de Barack Obama que se, aproximando o Brasil e os Estados Unidos pela experiência compartilhada da negritude.
A banda URUKUM, de estilo Tupinikore — fusão de rock e metalcore com canto em tupi-guarani — divide o palco com o elenco, transformando a encenação em uma ópera-rock indígena contemporânea. A DJ e sonoplasta Saskia Peter, artista negra da Mamba Negra, assina a sonoridade eletrônica e faz feat com a banda, criando uma paisagem que cruza o ancestral e o digital.
Com oito atores e cinco músicos em cena, "Mitologia Tropikal", reafirma a identidade do Projeto Crioulos como um coletivo de pesquisa estética e política. Criado em 2017, o grupo estreou com "Crioulos" (2020) e se consolidou com "Vida Bandida" (2021), obras que exploram o racismo estrutural e a vida de pessoas negras em situação de rua. Desde então, realiza circulações descentralizadas por espaços culturais e CEUs de São Paulo, com ações formativas gratuitas de canto, percussão, interpretação e dança afro.
Com esta nova montagem, o grupo conclui sua trilogia de mitologias contemporâneas, reafirmando o teatro como espaço de resistência, ancestralidade e invenção poética.
FICHA TÉCNICA
Direção e Texto: Caio D'aguilar
Consultor Histórico: Joaci Pereira
Provocador de Dramaturgia: Kenan Bernardes
Provocadora Corporal: Julia Brandão
Elenco: Ilunga Malanda, Diogo Cintra, Taynã Marquezone, Caio Daguilar, André Rosa, Priscila Rosa, Julia Brandão e Leandro Flores
Banda URUKUM: Brew Kambiwá, Vits Iglesias e Panda
Sonoplasta DJ: Saskia Peter
Criação e Operação de Luz: Renato Banti
Operação de Projeção: Renato Banti
Concepção Sonora: Banda URUKUM, Caio Daguilar e Saskia Peter
Técnico de Som: Arthur Maia
Figurinos: Mariana Paes
Cenografia e Cenotécnico: Edelsioela Denecir
Direção de Produção: Taynã Marquezone
Designer de Artes e Projeção: Genilson Junior
Fotografia e Vídeo: Felipe Gabriel
Assessoria de Imprensa: Rafael Ferro e Pedro Madeira
MITOLOGIA TROPIKAL
Foto: Felipe Gabriel
Temporada: De 30 de outubro a 16 de novembro
Horário: Quinta a sábado, às 20h | Domingo, às 19h
Local: Av. Santos Dumont, 1770 – São Paulo (Metrô Portuguesa–Tietê, 5 minutos)
Ingresso: Gratuito | Distribuídos uma hora antes de cada sessão.
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